terça-feira, 5 de abril de 2011

Tempos em que seu pai era você.

Fundiam-se com as coxas, tão apertadas eram. E pro diabo com a gradação. Continuavam despencando pelas pernas sem folgar um dedo que fosse, para então, já batendo à soleira dos tornozelos, arreganharem as bocas num contraste abrupto, embrulhado com o charme dos anos dourados. Vinham as catedrais no encalço do rapaz, clamando de volta pelos sinos roubados que não tilintavam. De resto, uma camisa de colarinho aberto e está completo o traje.

Sentado sobre o espaçoso capô do Opala, viu cruzar a esquina um homem feito de ébano; antítese ambulante com sua jaqueta branca. Somando a cabeleira alta aos sapatos plataforma, erguia-se com mais de dois metros de altura. Cumprimentaram-se com empolgação.

- Diz pra mim, irmãozinho: hoje tem?
- Ô!

Falavam com sugestões de sorrisos à beira de explodir no rosto. Quando os postes começaram a acender suas luzes em respeito à noite que caia, chegou mais um. Sandálias bem presas e vestes folgadas, de cabelos longos que nunca se preocuparam em estar arrumados.

- Alô, alô, rapazeada! - saudou o hippie.

E todos riram e conversaram e riram mais um pouco. Sempre que os brotos passavam, dois pentes eram rapidamente sacados por Topete e Black Power, que ronronavam com o vigor de suas duas décadas. Findada a prosa, entraram no carro e foram lá viver suas juventudes com um esplendor digno de imortalidade. Desgraçadamente, ela não veio. Quem veio foi Mark Chapman e seus quatro pedaços de chumbo, que de alguma forma derrubaram Lennon e, anos mais tarde, deram espaço para Cobain. Após ele, outros agouros ainda piores. Nesse contexto, novos jovens se reúnem.

- Oi?
- Tá me ouvindo?
- Mal pra caralho. Porra, Maxwell, arruma esse Skype aí.
- Fica de boa, mano. Quando dar nós arruma, já é?
- Viado...
- Tem que juntar dinheiro, jow. Já é semana que vem o show do Pe Lanza.
- Deu nóis!
Na tela do computador, sobe o aviso: youcanthurtmeanymore entrou no Skype.

- Ei, gente...
- Colé, emo. - responderam em coro.
- Ai, gente, pára. Não sou emo, que saco.

E partiram então para viver o novo mundo. Conversaram, jogaram RPG e foram azarar meninas no chat da Uol. A madrugada teria sido perfeita, não fosse por seus respectivos pais e o barulho que faziam na sala - três velhos nostálgicos de vitrola ligada, ouvindo as velharias de outra época.

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