segunda-feira, 26 de abril de 2010

Depois da Alvorada.

Findo orvalho derramado no crepúsculo,
O clarão da alvorada falhou ao dissipar.
Arcano noturno sob sol matutino;
Não há nada mais belo de se olhar!

Abóbada celeste em glória nos guia,
Lar dos Deuses a cantar e a sorrir.
Vejo o mundo nessa perspectiva,
Olhar mais belo há de existir?

Mas à medida que a manhã avança,
Ao silêncio do canto agora extinto,
Encontro dura realidade no meio-dia,
Passo a portar olhar distinto.

É a tarde que se mostra mais desilusória.
Vejo homens inglórios da minha janela.
Hipócritas disfarçados a nos corromper;
Quisera eu ter visão mais bela.

O sol, por fim, se põe nos morros longínquos.
Despede-se em fulgor qual animal agitado.
Começa a abandonar, na penumbra, a sociedade.
Quisera eu ver-me indo embora ao seu lado!

Rezo por exílio desse penoso convívio forçado.
Não confio nos homens e sua face maquiada.
Rezo, também, para ficar preso naqueles sonhos
Em que fujo da humanidade por mim execrada.

Regojizo, porém, com o cair do véu escuro.
Triunfal noite que me devolve a esperança.
Pessoas em suas casas, livro-me do temor.
Enxergo outra vez como quando era criança.

Deitado defronte ao céu estrelado,
Ciente do orvalho incessante a cair,
Anseio pelo crepúsculo e pela alvorada,
Só entristeço-me com o resto do dia por vir.

sexta-feira, 16 de abril de 2010

Deus

Entenda minha descrença, desconhecido interlocutor.
Ela não é oriunda das tormentas que vi e vivi.
Provém das inúmeras e gélidas noites que acordei,
Trêmulo com o cortante frio que jamais senti.

Fujo de olhares impregnados com desprezo.
Ouço palavras vis, travestidas de benevolência.
São pronunciadas com com falsa meditação,
Por homens convictos de Tua existência.

Perco-me na confusão que chamam de Vida.
Calado pelos outros, parei de me expressar.
Guardo para mim as tristes incertezas,
Que poucos ousam questionar.

Todavia, não é o meu silêncio forçado que incomoda.
Tampouco palavras repressoras e olhares de censura.
Não! O que tira meu sono à noite, Senhor,
É essa Tua indiferente – quiçá apenas ausente – postura.

Talvez minha muito limitada mente mortal
Não tenha captado o Vosso grandioso plano.
Mesmo assim, abomino esse propósito maior
Que, sem explicações, subjuga o ser humano.

És tão abstrato! Como Te descobriram; onde estás?
E nem sequer é essa a razão da crença inviabilizada.
Pois de imediato reconheço: eu até poderia ter fé,
Se vivêssemos de forma mais civilizada.

Para uma mera conclusão, calha reforçar o pensamento.
Nunca Te manifestastes, erguestes de alicerce nenhum.
Criamos molde utópico para o nosso próprio Criador,
Mas o vazio é o mesmo. E agora? Criaremos mais um?

Não espero acordar amanhã e encontrar a resposta
Que até hoje, apesar da busca constante, nunca veio.
Mas não nego que ainda sonho em descobrir, algum dia,
Que tudo isso não passa de um surreal devaneio.

Se por ventura a morte me acordar para outra realidade,
Então talvez haja um fio no qual perdure a esperança.
Mas enquanto não deixo a vida, continuo aqui;
O homem sem dormir, a alma que nunca descansa.